segunda-feira, 22 de maio de 2017

RESENHA EXCLUSIVA + MODA: 'Dom Camurro'


MACHADO E OS OLHOS DE CAPITU

                                                                                Por Guilherme de Moraes Corrêa



       Eu talvez seja uma das poucas pessoas que ainda olha para ‘Dom Casmurro’, como o melhor livro de Machado de Assis, por sua complexidade e por ter aquele ‘tom vintage e autêntico’, talvez pela maneira que ele conta a história, já a linguagem é clássica.
      Eu imaginava que só seria um livro para estudar na escola, no Ensino Médio, para adquirir conhecimento prévio para os vestibulares da época, a nove anos atrás quando li pela primeira vez. Depois veio a adaptação da minissérie de sucesso na TV, chamado ‘Capitu’, e aí me apaixonei mais pelo livro e por outras grandes obras de Machado de Assis.
        Na época, tive o prazer de fazer um trabalho semestral, bem detalhado, na verdade foi uma pressão das aulas e da professora de Português, a qual, admiro muito, por ser aquela mulher ‘à frente do seu tempo’. Foi difícil gostar dela de verdade, com o tempo e depois que comecei a vida na faculdade de Jornalismo, ela sempre foi uma referência de todo meu conhecimento.
       O nome dela é Raquel Silva, era ensino médio, mas, ela suas aulas eram bem ‘faculdade’. Reencontrei em vários professores da faculdade sua excelência em ministrar suas aulas. Terminei o curso de Jornalismo com muito orgulho e satisfação. Hoje, depois de 9 anos, resolvi fazer uma releitura de ‘Dom Casmurro’, um livro de capa dura, velho, com as páginas amareladas, bem antigo mesmo.
       É mágico e prazeroso, tocar nesse tipo de literatura que me abriu portas para outros livros tão exóticos e tive um enorme prazer, por gostar de livros narrados em primeira pessoa. É tão mais interessante e prende o leitor de uma maneira incrível.
        Machado de Assis, naquela época, já fez de um jeito que tornou suas obras ‘autênticas’ onde o leitor perde até a noção de que está lendo uma Literatura Clássica Brasileira, às vezes, ler o que é nosso, o comportamento das pessoas, a nossa cultura dentro de um romantismo que está presente em nosso tempo e atravessou gerações até hoje.
        O intrigante é que ele é adaptado para minisséries, teatros, HQ’s, existem tantas interpretações sobre essa obra que desvenda ou não os mistérios envolvidos naquele ‘triângulo amoroso’ entre Capitu, a dona dos olhos de ressaca e de cigana oblíqua e dissimulada, o melhor amigo belo e intruso (traidor) Escobar e o nosso narrador Bento (Bentinho) desconfiado e resmungão.
        E como existem trabalhos de conclusão de curso na faculdade (TCC), tive o prazer de trazer essa reflexão para o tempo de hoje, um ‘Dom Casmurro’, ou ‘Os Bentinhos sobre os olhares de Capitu’ mostrado no mundo da Moda, num figurino inspirado nesta obra.
         Nosso narrador é confuso, poético, resmungão, melancólico, sedutor, diabólico sobre todo o comportamento de Capitu, ele começa jovem, adolescente e o adulto desconfiado de uma traição   e com várias dúvidas, com tragédias inexplicáveis. E a coleção de Felipe Lima traz esses Bentinhos, em pleno século 21, em 2017.

      Como não reencontrar em outras obras, pessoas e até mesmo no figurino inspirado esses Bentinhos em suas facetas para chegar no ‘Dom Casmurro’, triste e resmungão? Podemos ver o jovem menino apaixonado pela vizinha em tons de azul, toda a santidade, apaixonado, um corte de cabelo curto, um pré-adolescente, o tímido, demonstrando medo do seu destino em tornar-se padre no seminário.


       O outro Bentinho é o adolescente, em fase de crescimento, a puberdade, quase homem feito, já muito apaixonado, pressionado pela Capitu, que está cheio de promessas com Deus, para quebrar o destino de tornar-se padre, o seminarista com muitas saudades da mãe, do Tio Cosme, saudades da casa a de Matacavalos. Em tons de azul, por toda sua pureza.


       E quando José Dias faz uma visita para Bentinho no seminário e pergunta por seu grande amor Capitu, ele diz pela primeira vez ‘ – Tem andado alegre, como sempre; é uma tontinha. Aquilo, enquanto não pegar algum peralta da vizinhança, que case com ela...’, começa o lado rebelde, raivoso, desconfiado de Capitu que quebrou a promessa de se casarem, sem ter mais nenhum relacionamento, no capítulo LXII, com nome de “Uma Ponta de Iago”, o cabelo mais comprido, sedutor, desacreditado, roupas mais escuras, um santo e diabólico ao mesmo tempo, ainda apaixonado por Capitu, mas cheio de ciúmes, numa combinação de azul e preto.


       E tem o Bentinho mais realizado, aquele capítulo “Tu serás feliz, Bentinho! ”, casado com Capitu, o homem da Lei, advogado, tornou-se Protonotário Apostólico, está em paz. O homem ao lado de Capitu é um estilo claro, branco, um olhar sério sobre ela e cheio de inveja do melhor amigo intruso Escobar.


        E terminamos com o narrador, sedutor, triste, cabelos soltos, olhar cheio de raiva, com uma roupa representando o próprio ‘diabo no homem’ que perdeu Capitu com uma separação e morte, a perda do melhor amigo e o crescimento do filho e por não ter nenhuma semelhança, o que vem a ser a maior prova de traição, o filho é de Escobar, Capitu traiu e não precisou falar nada, os detalhes poéticos na renda da roupa preta.


       ‘Os Bentinhos sobre os olhares de Capitu’, representa bem essa ideia, essas roupas, esses homens, com uma beleza santa e sombria com o tempo para virar ‘Dom Casmurro’. Você já viu isto em vários lugares em pleno século 21 e todo cuidado é pouco, quantas mulheres tem o olhar de Capitu? E os amigos intrusos e sedutores que estão sempre de olho na sua vida como Escobar?
         Isto é, as influências de Machado de Assis, essas inspirações, definem o homem moderno até hoje, o comportamento brasileiro. Quantos casais existem que são belos   e acabam mal, num casamento com traição, por causa de um amante, em pleno Rio de Janeiro, isso é o carioca, já dizia Machado... ‘A terra lhes seja leve! Vamos à História dos Subúrbios’.

Estilista da coleção: Felipe Lima
Crédito de fotos: Lucas Prada
Modelos do TCC do Felipe Lima: Brenno Pagioro, Lucas Rocha, Rodolfo Klein e Danilo Silva

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